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Creches para idosos começam a surgir pelo Rio

Atualizado: 24 de nov. de 2019


Em meio ao verde do Itanhangá, na Zona Oeste, a Casa do Bosque, que será inaugurada na terça (12), lembra uma aconchegante pousada na serra. Tem restaurante, amplo jardim e piscina, além de programação farta. A lista de distrações inclui jogos de tabuleiro, oficinas de jardinagem, aulas de culinária, circuito funcional, artesanato, karaokê, cinema com telão… Esse cenário poderia ser o de uma nova colônia de férias, mas trata-se da primeira creche para idosos da cidade. Na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) realizada pelo IBGE em 2016, o Rio de Janeiro apareceu como o estado brasileiro com a maior parcela de pessoas acima dos 60 anos. Enquanto a chamada terceira idade representa 14,4% dos habitantes em todo o país, no Rio a porcentagem salta para 18,7%. Na capital, cálculos da prefeitura estimam que esse recorte seja de 16% — e a previsão é que, daqui a cinquenta anos, o número chegue a 36%. A cidade envelhece, e é natural, portanto, que novos serviços surjam na esteira desse processo.


Idealizadora da Casa do Bosque, a gerontóloga e terapeuta familiar Patrícia Elman é dona de uma clínica em Copacabana, em operação há quarenta anos, especializada no atendimento à terceira idade. Em sua nova empreitada, de segunda a sexta, das 8 às 18 horas, vovôs e vovós vão participar das atividades sob a supervisão de uma equipe composta de nutricionista, psicóloga, fonoaudióloga e terapeuta ocupacional. É proibido ficar parado. Sonecas muito longas, nem pensar. Nos dias chuvosos, o jeito é fazer como os netos e ficar no videogame, mas um dos jogos disponíveis propõe sessões de ioga. Já há seis alunos matriculados. “Além de entreter, o nosso objetivo é promover o envelhecimento saudável com desenvolvimento cognitivo”, afirma a gerontóloga, antes de ir direto ao ponto. “Queremos empoderar os idosos, que, em geral, ficam à mercê da televisão. Isso deprime, e a depressão, nessa idade, é perigosa. Mata. A socialização é a coisa mais importante para eles.”


A dentista Celia Regina Affonso, 55 anos, moradora da Tijuca, prometeu aos pais que interná-los em um asilo nunca seria uma opção. Após algumas alternativas frustradas — a exemplo de uma tumultuada experiência com cuidadoras —, ela decidiu optar pelo day use da casa de repouso Vila Marina, em Vila Isabel. Sua mãe, Maria Carmen Affonso, 81 anos, frequenta o espaço pelo menos uma vez por semana. Nas visitas, faz atividades terapêuticas ligadas a arte e música, sessões de dança e participa de animadas excursões: AquaRio, Museu do Amanhã e Confeitaria Colombo foram alguns dos destinos da turma. “No início ela relutou, dizia que não queria ir, mas hoje ama. Mamãe sempre odiou ficar em casa. Em um asilo, que é mais paradão, a cabeça dela iria deteriorar”, conta Celia Regina, no papel invertido de mãe zelosa.


A diária nas creches para gente grande (alunos acima dos 60 anos, independentes e sem problemas mais graves de saúde) varia entre 130 e 350 reais. Serviço semelhante, mas gratuito, é oferecido pela prefeitura nas Casas de Convivência e Lazer. São sete as unidades espalhadas por bairros como Gávea, Lagoa, Penha e Tijuca. Das 8h às 17h, de segunda a sexta, o projeto atende até 600 idosos por dia e oferece, entre outras atrações, tai chi chuan, pilates, inglês e dança cigana. Um dos endereços mais movimentados da rede, a Casa Padre Veloso, em Botafogo, tem como decana uma frequentadora de 101 anos. Há uma semana, uma colega mais jovem, Maria do Perpétuo Conceição, 75 anos, solteira e sem filhos, esbanjava alegria na turma de percussão comandada por Cidão, mestre de bateria da Escola de Samba São Clemente. “Minhas irmãs já morreram e minha sobrinha mora nos Estados Unidos. Fui ficando tão só que desenvolvi síndrome do pânico. Aqui na casa fiz amigos e melhorei. Na semana passada, combinamos de ir à Casa do Minho e dançamos até meia-no­ite”, conta. Outro habitué é o comerciante aposentado, viúvo e pai de três filhos José Aureliano Rebelo, 95 anos. Na Casa Padre Veloso, ele arranjou, inclusive, um novo amor. “A gente se conheceu aqui e casou, moramos juntos. Adoro as aulas de teatro, faço há quatro anos. Já interpretei Jesus Cristo, padre e até coveiro”, diz, às gargalhadas. Rir, a propósito, também é um ótimo remédio.


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