Por Luciana Seabra
Pra mim, sempre funcionou assim: gastos em comum, como aluguel, supermercado, internet são pagos de forma proporcional; investimentos fazem parte da caixa do cada um por si
"Nos Estados Unidos, o dinheiro é o maior motivo de divórcios e a causa número um de estresse. No Brasil, o dinheiro também é uma das principais causas de estresse, juntamente com o medo da violência e do desemprego."
Esse é um trecho da introdução do livro A Psicologia do Dinheiro, de Dan Ariely e Jeff Kreisler, vulgo meu livro de cabeceira no momento.
Raramente falo sobre gastos aqui – acho que costumo ser mais útil pra quem quer investir –, mas tinha me deparado há algumas semanas com uma dúvida na caixinha do Instagram: "Lu, qual é a melhor forma de organizar as finanças do casal?".
Foi ali que percebi que, ao contrário dos casais americanos relatados no livro e também de amigos na vida real, eu até já passei por um divórcio, mas nunca briguei por causa de dinheiro em casal. Nunca foi um tema de discórdia na minha casa.
Respondi à pessoa que enviou a pergunta dizendo que tinha aprendido uma técnica que funciona muito bem pra mim no livro Até que o Dinheiro nos Separe, da doutora em psicologia clínica e especialista em terapia familiar e de casal Cleide Bartholi.
Desde então, aparece todo dia um cliente perguntando: "Qual é mesmo aquele livro que fala de dinheiro em casal que você citou?". É... parece que o tema não é trivial mesmo.
Como faz mais de dez anos que li o livro (e como emprestei pra alguém que não me devolveu), não posso dizer ao certo se sigo a técnica de Cleide ou se fui a adaptando ao longo do tempo, mas o fato é que ali me deu uma luz e quero dividir com você o formato que sempre segui. Vai que é um serviço de utilidade pública...
Se me lembro bem, Cleide diz, com base em anos de terapia com diferentes casais, que a técnica que costuma gerar menos conflito é a da proporcionalidade. E é essa que eu sigo.
Pra mim, sempre funcionou assim: gastos em comum, como aluguel, supermercado, internet e mesmo uma viagem planejada em casal, são pagos de forma proporcional. Se eu ganho 20% mais, pago 20% mais na divisão, por exemplo. Eu já estive dos dois lados dessa equação e sempre me senti muito confortável com ela.
Isso não significa, bom dizer, que, se eu for ao supermercado comprar meia dúzia de itens, dividiremos a conta proporcionalmente. Fazemos valer para as grandes despesas. E também não rachamos uma a uma. Algumas contas ficam comigo, outras com ele. E essa divisão é proporcional à renda.
É claro que essa técnica não serve pra todo mundo, já que depende de os dois terem renda. Mas, pra quem tem, acho que funciona muito bem.
Pagas as contas básicas, o dinheiro que sobra pra cada um, R$ 1 que seja, é de cada um. E o outro não mete o bedelho. Isso evita brigas do tipo: "eu abri mão de comprar um carro e agora você tá gastando todo o dinheiro nessa viagem".
Não é porque duas pessoas uniram os trapinhos que imediatamente seus interesses se encontram como mágica. É claro que o valor que dou para alguns bens ou serviços é diferente do seu. E tudo bem. Eu compro com meu dinheiro, você compra com o seu.
Os investimentos, para mim, fazem parte da caixa do cada um por si.
Já cheguei a investir um pouquinho junto nessa vida, com o objetivo marcado de uma viagem. Aí tudo bem. Agora, a reserva de emergência, o valor aplicado sem objetivo certo, a previdência... tudo separado.
Sim, é claro que eu ajudo na alocação do dinheiro do companheiro se ele pedir. E, se quiser investir em fundo ruim também... bem, aí já é demais.
Um abraço,
Luciana Seabra
Fonte: Valor Investe
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