Enquanto base total de aplicadores aumentou cerca de 150% em três anos, número de investidores dessa faixa etária quase se multiplica por 10 vezes: hoje eles passam de 166 mil
Você sabia que mais de 166 mil jovens de 16 a 25 anos investem na bolsa de valores? Esse número representa mais de 10% das pessoas que aplicam seu dinheiro na B3. Parece pouco, mas, há dois anos, menos de 18 mil pessoas dessa faixa etária investiam em ações ou em outros produtos de renda variável, como fundos imobiliários. Na época, o número não chegava a 3% do total.
Esse aumento se deve principalmente a três fatores: o aumento do acesso à informação, por meio de canais de YouTube e páginas de influenciadores digitais, que incentivou a entrada deles no mercado financeiro; à reforma da Previdência, que mostrou a necessidade de se fazer uma poupança de longo prazo; e à queda da taxa de juros, que tornou a renda fixa menos rentável.
Mas, afinal, quem são esses jovens, no que eles investem e como eles começaram a aplicar na bolsa? O Valor Investe conversou com três investidores que têm entre 21 e 25 anos para tentar responder a essas perguntas.
O quanto aumentou?
O número de investidores de 16 a 25 anos cresceu mais de quatro vezes em relação a novembro do ano passado, quando apenas 37,7 mil pessoas dessa faixa etária investiam na bolsa. Se comparado a 2017, quando apenas 17,8 mil jovens aplicavam em renda variável, o aumento se torna ainda mais impressionante: 830%.
É claro que o número de investidores na bolsa também aumentou nesse período. Em 2017, eram 613,2 mil pessoas, em 2018, 789,6 mil e agora 1,5 milhão. Porém, o crescimento de jovens que investem na B3 foi muito mais significativo, o que fez com que a participação deles também aumentasse. Se em 2017 eles eram pouco menos de 3%, hoje eles já passam de 10%.
Por que aumentou?
Parte da explicação para o aumento vem das novas ferramentas de educação financeira que surgiram na internet nos últimos anos. Canais do YouTube voltados para investimentos e finanças pessoais, materiais de casas de análises financeiras e as próprias redes sociais de corretoras são alguns dos veículos mais citados por esses jovens como ferramentas para aprender sobre o mercado e começar a aplicar seu dinheiro.
"A discussão sobre a reforma da Previdência foi muito importante nisso. Porque, com ela, os jovens começaram a perceber que precisam fazer uma poupança. E aí o interesse deles por investimentos aumentou", afirma Alexandre Espirito Santo, que além de economista da Órama Investimentos é professor de alunos dessa faixa etária no IBMEC-RJ.
Segundo o especialista, os jovens tendem a começar a investir por meio de aplicações mais conservadoras, como o Tesouro Direto e títulos de renda fixa privados, como CDBs. Um levantamento do site Yubb, que funciona como um buscador de investimentos, confirma a tese: os investimentos mais buscados por pessoas de 16 a 25 anos foram os CDBs seguidos do Tesouro Direto. Em seguida, no entanto, aparecem os fundos de ações.
Para Espirito Santo, essa dinâmica mudou (e deve continuar mudando) com a queda da taxa de juros. Como muitas aplicações de renda fixa têm seus rendimentos atrelados de alguma forma à taxa Selic, quando ela fica menor (que é o cenário atual), a rentabilidade cai também. A bolsa, então, entra no radar. No caso dos jovens, ainda há outro ponto a favor: o tempo, que os permite "errar" nas apostas e reverter eventuais perdas.
"O jovem pode correr mais risco. Eu já não posso, porque não tenho tempo para reverter a perda. Mas a matemática financeira te mostra que o tempo é a favor da acumulação de capital. Quanto mais tempo você tem, mais você acumula. É juro sobre juros. Você pode eventualmente ter perdas, mas elas são recuperáveis se olhar em um horizonte maior", afirma Espirito Santo.
Ele explica que, mesmo que o investidor aplique em renda variável (que possui um risco maior), os investimentos de longo prazo tendem a ter ganhos. "O país tende a crescer, as empresas vão crescer junto e as ações se valorizam", diz.
Para ele, o aumento da participação dos jovens na bolsa está só no começo. "A juventude está percebendo que existem alternativas boas de investimento na bolsa e eles têm muito acesso a informação. Então, acho que isso está só no começo. Principalmente porque a taxa de juros caiu e tende a ficar baixa por pelo menos um ano, um ano e meio", diz.
Quem são esses jovens e como eles investem?
Um dos pontos em comum dos jovens ouvidos pela reportagem é a estratégia de investir na bolsa pensando no longo prazo (estratégia chamada de "buy and hold", traduzida do inglês como "comprar e manter"), embora alguns admitam começaram com operações de curtíssimo prazo. A maneira como eles aprenderam e se informam sobre o mercado também é parecida. Todos citaram canais do YouTube, acompanhamento de influenciadores digitais financeiros e assinatura de relatórios de casas de análise como algumas de suas principais ferramentas.
Breno Perrucho é um deles. Instigado por canais como Me Poupe, da jornalista Nathalia Arcuri, e O Primo Rico, do influenciador Thiago Nigro, o jovem de 22 anos começou a investir quando chegou à maioridade, em instrumentos de renda fixa como títulos públicos e, em seguida, títulos privados como CDBs, LCIs, LCAs e debêntures.
Com a Selic em queda, ele começou a procurar empresas para investir em ações. "Eu comecei a procurar empresas que eu conhecesse os fundamentos, que tivesse bons indicadores para eu segurar para o longo prazo, porque mantenho a ideia de comprar ativos que vão me garantir fluxo de caixa", afirma.
Marcelo Lopez Ramos, de 21 anos, investe desde os 16 e usa a mesma estratégia. Ele conta que, quando optou por cursar economia, começou a ler livros sobre o mercado financeiro e fazer aplicações. O jovem até tentou operar com compra e venda de ações na bolsa no curtíssimo prazo (estratégia chamada de "trading"), mas hoje prefere comprar e ficar com o papel.
"Hoje não costumo 'tradar', eu guardo os ativos de longo prazo para a minha aposentadoria", afirma. Assim como Perrucho, ele também cita perfis do YouTube como influenciadores importantes para que os jovens começassem a investir. "Canais como o do Thiago Nigro e Nathalia Arcuri fizeram muitas pessoas saírem da poupança e irem para a renda variável", diz.
Lucas Cruz, de 25 anos, tem 50% do seu capital investido em ações. Ele afirma que começou em 2016 por curiosidade, mas só em 2017 começou a "levar a sério". "Muito importante para mim foi descobrir qual era o meu perfil como investidor de bolsa. Isso me ajudou muito a ter o entendimento necessário para os meus investimentos", diz. Ele conta que, no começo, tentava fazer a compra e venda de ações diariamente, mas hoje se identifica com investimentos que visam o longo prazo.
Cruz também atribui o crescimento de jovens na bolsa ao acesso à informação. "O surgimento de influencers financeiros em várias redes sociais facilitou muito o acesso aos conceitos da bolsa", afirma.
Ele alerta, porém, que muitos veículos ou casas influenciam os jovens a tentar usar a estratégia de compra e venda de ações no curtíssimo prazo mesmo que eles não tenham o conhecimento necessário para isso, o que pode gerar perdas. "A maioria das pessoas que vejo começando em bolsa agora, começam pelo trading diário, motivados pela abundância de material que incentiva essa estratégia, e promoção de diversos traders", afirma.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) diz que companha de perto o trabalho tanto dos influenciadores digitais quanto dos YouTubers como de outros veículos, como casas de análise e relatórios. Segundo Florisvaldo Gonçalves, inspetor da superintendência de proteção e orientação aos investidores, caso a CVM verifique que eles estão "exercendo alguma atividade que não podem", eles serão notificados e terão que esclarecer.
Fonte: Valor Investe
Comentários BGP: "Esse aumento se deve principalmente a três fatores: o aumento do acesso à informação, por meio de canais de YouTube e páginas de influenciadores digitais, que incentivou a entrada deles no mercado financeiro; à reforma da Previdência, que mostrou a necessidade de se fazer uma poupança de longo prazo; e à queda da taxa de juros, que tornou a renda fixa menos rentável.'
O modelo tradicional judicial de cálculo do valor da pensāo alimentícia ainda não considera como imprescindível uma quantia para fins de investimentos/ previdência privada. Contudo, na esfera extrajudicial, cresce o número de casais conscientes da necessidade do orçamento familiar englobar a poupança de uma parcela financeira para o futuro do menor de idade.
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